top of page

Cremilde Luzia:
Como se viveu o 25 de Abril em Portimão?

WhatsApp Image 2022-04-16 at 17.51.27.jpeg

Nascida há 78 anos em Odemira, Cremilde Luzia veio morar para Portimão em 1964 numa altura em que Portimão não passava de uma cidade pequena, mas com várias fábricas de conservas.  Por sua vez, Cremilde Luzia dá-nos o prazer da sua história sobre as memórias dos dias em que se sentiu a revolução nesta cidade do sul do país.

 

"Havia um carro de besta que vinha distribuir ao fim de semana carvão e petróleo. Já havia algum comércio (lojas de roupa à peça para se fazer), mercearias, padarias, tabernas), pessoas do campo que vinha vender na praça. Usava-se muito carroça e as bestas. As fábricas quando se trabalhava até às 24h as pessoas que moravam no Porto de Lagos, Alvor e arredores iam a pé de volta para casa no outro dia de manhã quando regressavam ao trabalho já havia rodoviária, mais tarde a pouco tempo da revolução 25 de Abril o patrão da fábrica alugava um autocarro para as levar a casa ou perto. Depois do 25 de Abril a fábrica começou a ter frigoríficos próprios e “ganham” então um horário de trabalho, por exemplo das 9h às 18h com uma hora de almoço. Até ao 25 de Abril não tinha horário de trabalho enquanto havia peixe tínhamos que trabalhar, mas quando não havia peixe também não trabalhavam e se não trabalhavam também não ganhavam. Havia um quadro na fábrica onde estava lá inscrito os nomes de quem trabalha todos os dias. Antes do 25 de Abril quem não queria fazer serão na noite no dia seguinte tinham sanção só se safavam as amiguinhas da mestra", conta.

Como se viveu o 25 de Abril em Portimão, tendo em conta a distância com a capital?

"Foi calmo em Portimão, pouco se ouviu falar, não se desconfiava de nada, ao passar perto da praça percebi que tinha acontecido alguma coisa, quando cheguei a casa e ouvi as notícias é que percebi o porquê do silêncio na cidade. Poucos dias depois é que houve manifestações a apoiar o MFA (as forças armadas) e a CGTP (sindicato). Saíram à rua professores, trabalhadores das fábricas, mas nunca em conjunto".

 

Havia PIDE em Portimão?

"Se havia… E eram uns bufos aqui!"

Havia na altura algum pressentimento entre a população de que pudesse ocorrer um acontecimento destes ou foi uma surpresa total? 

"Falavam na fábrica. No 1 de maio do ano anterior houve pessoas que escreveram na parede “viva a democracia viva a liberdade” e apareceu papéis pelas fábricas com dizeres também, mas os mestres mandaram pintar as paredes e desapareceram com os papeis. As pessoas já esperavam que acontecesse alguma coisa, mas teve que ser em segredo porque já tinham havido muitas tentativas para o golpe de estado, no entanto, só assim se concretizou", conclui.

bottom of page